12 setembro, 2008

Elis em Susana

Ela canta e encanta, pegando em sons do outro lado do Atlântico, sons que correram o mundo e que ficaram na memória. A face da voz era Elis Regina, de alegria contagiante, de sorriso enternecedor, que cantava a vida como se soubesse todos os nossos segredos mais íntimos. Deste lado do mundo, há muito que Elis Regina se tornou uma das divas da música. Cresci com ela na lembrança, ajudada por uma Mãe que, segundo me diziam, era algo parecida com ela fisicamente. E com Elis surgiram Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa… Cresci assim, polvilhada de sons do mundo, de todos os recantos, tornando-os meus e cantando-os para uma plateia imaginária. E será assim sempre a minha carreira de cantora, porque cedo perdi o dom do canto, por não o domesticar quando o tinha. Uma carreira imaginária, feita de fãs fantasmas – só às paredes torturo, em resumo.
Tudo isto para dizer que reencontrei a magia de Elis personificada em alma lusa, numa Senhora – em letra capital, porque já é grande a coragem e a arte desta algarvia -, de seu nome Susana Travassos.
O timbre é quente e cristalino, o sotaque mudou-se, as vogais tornaram-se mais fechadas, há nele qualquer coisa de fado português e xácara árabe que não sei precisar, e nem por isso a homenagem de Susana Travassos a Elis Regina é menos prestigiante ou sentida.
Para primeiro projecto de uma carreira a solo, não é muito vulgar que vejamos um artista dar um passo tão célere, arriscando nele a admiração e a fieldade do público, mas Susana diz-nos que Elis Regina merecia, que Elis lhe traduz o ensejo e o empenho de levar por Portugal a sua própria voz, espalhando através das palavras da diva brasileira a sua própria mensagem.
E assim, à medida que os meses passam e os concertos se multiplicam, à medida que as tardes de Verão vão cedendo ao Outono, o pôr-do-sol pede um som que reconforte e alegre, fundindo a bossa nova, o jazz, a mpb, numa simbiose perfeita – Oi, Elis é isso tudo, a simbiose entre passado e presente, entre Portugal e Brasil, a ponte para um futuro que esperamos promissor para esta nova voz da música portuguesa.
“Formosa”, “20 anos blues”, “O que tinha de ser”, “Retrato em branco e preto” “Arrastão”, “Mucuripe”, “Canção do sal”, são apenas alguns dos temas de um álbum obrigatório.

Queremos mais. Esperamos mais, Susana. Rápido!



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