06 agosto, 2008

Delírio

Aviões. De papel. Eu faço aviões de papel quando entro em delírio. Outros atiram-se de pontes. Escrevem ao ministro. Desancam na mulher e nos filhos…

Pois. Perdi uma coisa que, pelos vistos, é essencial à vida humana, a que alguns chamam emprego. Um dia, o meu chefe, grande besta dos Infernos, decidiu que eu, Delmiro Direitinho, jornalista de pasquins, era perfeitamente dispensável.
E então começou o delírio.

As pilhas de jornais acumularam-se, o rasurado escarlate foi abandonando a secção Emprego, até que, num belo dia de tempestade, arrebanhei as inúteis páginas que me tatuavam os dedos e perfilei-as em algo decente. E assim nasceram os jactos, jumbos, concordes, avionetas...
Pensam vocês – Este é louco! – Mas eu não fumo, não bebo, não roubo nem engraxo ninguém… não berro aos vizinhos quando andam à estalada, ou quando vomitam pelo prédio a verborreia dos seus neurónios conservados a vodca Roscof. Nem roo os sapatos do carteiro, como Igor – o buldog da porteira – nem tão-pouco estremeço o prédio com o tchim-tcha-pum das festas dos universitários do 7.ºD…
Apenas construo os meus aviões – obras-primas que no futuro século XXV um douto terráqueo classificará como A Grande Colecção de Delmiro Direitinho, o Génio-Artista-Pensador do Século XXI…

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