Cintilantes, cintilantes. Os olhos e as mãos embaçadas, coladas ao vidro gelado e consumido pelo hálito de um garoto qualquer que ali deixara a marca de um amor deslambido por uma qualquer "Vânia". Trementes os pés e as pernas. Frias, geladas. E a neve podia ter feito um manto sobre o carro. Pareceria um pequeno monte com janelas, primeiro, e, aos poucos, ao amontoar do suave floco de neve, um a um, claro, todos os vestígios de um carro seriam apagados.
O bafo aquecia-lhe um pouco. Mas desse pouco parecia que voltava à vida. E a porta emperrada e o carro empanado, no fundo da valeta, no meio do nada. E as pernas geladas, sem vontade de se mexerem. Azuis, azuis. O sangue enregelava. Sem saber, ia ficando branco, como a neve, azul, azul coral. Será que existe? Será que existe uma ínfima possibilidade... De alguém cair na mesma valeta que eu e dar-se conta que aqui há um carro, sob este branco que por pouco se torna manto? Que há aqui alguém? E se me puser gritar? Será que adianta? E se me puser a gritar...?
Recuperou o fôlego. O pânico, o terror. E se eu ficar aqui para sempre? E se tiver de morrer aqui? E se todos me esquecem? O frio, o frio. O calor do primeiro beijo e o prazer do primeiro livro. A suavidade da pele dela, o encanto dos seus olhos. Mas o frio não passa. E o tempo sim... Se o tempo recuasse, eu dizia-lhe outras coisas: batia-lhe menos, ensinava-a a conduzir. Se o tempo recuasse tenho a certeza que lhe diria para não se meter comigo. Que a bebida não era apenas um hábito, nem que esta cicatriz fora de um acidente. A verdade. Dou-me conta que precisava disso. Há tanto tempo. A verdade mata e mói. Mas a verdade é tudo aquilo que nos resta. O que fica antes da morte. O que nasce connosco.
Olho as minhas mãos e vejo sangue. Um sangue antigo. Espesso. Um sangue de anos, de lábios rebentados, de olhos consumidos por um embate qualquer. Olho os meus olhos e vejo. Vejo-te a ti a sorrir. Vejo-te a ti a chorar. Vejo-te a ti a fugir e a gritar qualquer coisa. Vejo-te a ti tão serena. Vejo sangue, tanto sangue. E a faca. Sangue nas mãos. Sangue.
Depois o carro. E a fuga para longe de ti. Dos teus olhos de mel e da tua boca de cetim. E a fuga nunca parecia ser suficiente. E a pressa. E o ódio. E o amor.
De repente, o escuro. E o embate. E a perna trespassada por algo. E o carro desce a valeta e cai aqui.
Não morri.
Por enquanto.
O bafo aquecia-lhe um pouco. Mas desse pouco parecia que voltava à vida. E a porta emperrada e o carro empanado, no fundo da valeta, no meio do nada. E as pernas geladas, sem vontade de se mexerem. Azuis, azuis. O sangue enregelava. Sem saber, ia ficando branco, como a neve, azul, azul coral. Será que existe? Será que existe uma ínfima possibilidade... De alguém cair na mesma valeta que eu e dar-se conta que aqui há um carro, sob este branco que por pouco se torna manto? Que há aqui alguém? E se me puser gritar? Será que adianta? E se me puser a gritar...?
Recuperou o fôlego. O pânico, o terror. E se eu ficar aqui para sempre? E se tiver de morrer aqui? E se todos me esquecem? O frio, o frio. O calor do primeiro beijo e o prazer do primeiro livro. A suavidade da pele dela, o encanto dos seus olhos. Mas o frio não passa. E o tempo sim... Se o tempo recuasse, eu dizia-lhe outras coisas: batia-lhe menos, ensinava-a a conduzir. Se o tempo recuasse tenho a certeza que lhe diria para não se meter comigo. Que a bebida não era apenas um hábito, nem que esta cicatriz fora de um acidente. A verdade. Dou-me conta que precisava disso. Há tanto tempo. A verdade mata e mói. Mas a verdade é tudo aquilo que nos resta. O que fica antes da morte. O que nasce connosco.
Olho as minhas mãos e vejo sangue. Um sangue antigo. Espesso. Um sangue de anos, de lábios rebentados, de olhos consumidos por um embate qualquer. Olho os meus olhos e vejo. Vejo-te a ti a sorrir. Vejo-te a ti a chorar. Vejo-te a ti a fugir e a gritar qualquer coisa. Vejo-te a ti tão serena. Vejo sangue, tanto sangue. E a faca. Sangue nas mãos. Sangue.
Depois o carro. E a fuga para longe de ti. Dos teus olhos de mel e da tua boca de cetim. E a fuga nunca parecia ser suficiente. E a pressa. E o ódio. E o amor.
De repente, o escuro. E o embate. E a perna trespassada por algo. E o carro desce a valeta e cai aqui.
Não morri.
Por enquanto.
by Lunaris



alo!
ResponderEliminarLunaris, so para te avisar que a vampiria se tornou numa legionária. Espero que gostes. Beijo