Do delírio soltavam-se mãos e ombros e braços num rasgo de loucura.
Da febre, pouco mais que escaldante, marcava o corpo a compasso lento, entrevendo a respiração a baque.
Do corpo, o martírio.
Da voz, a loucura.
Dos olhos, o sono denso, pesado, triturante a par da febre.
Da cadeira do lado fitavam-no. E de um canto. E do outro.
E a porta abria-se e fechava-se com lamentos e lamúrias, vozes de desespero e carpideiras.
No ar, o cheiro a medicamentos, a médico acabado de se ir. Ao sal das lágrimas incontáveis.
E na cama, tu. Desgrenhado, desidratado, possuído por um demónio qualquer.
Às vezes, a febre deixava-te gritar. E nos gritos a dor via-se. Sentia-se e respirava-se. Chega-se a sussurar. A cantar baixinho algo que nos afaste dos teus gritos. A balançar o corpo para afastar a dor. Para matar a doença. E então o mundo parece ser antes de ti, febre, antes de ti, dor, antes de ti, loucura.
Há uma luz fraca a teu lado. Mal se vêem as gotas que te alagam os poros e tornam-te a pele macilenta, baça. A febre.
Na cadeira de baloiço, lugar vazio e livro abandonado. As horas intermináveis que devoravas. Sempre fiel, sempre fiel. Os livros para ti. Sempre. Tudo. Chorar baixinho. E neste momento tudo se torna em água.
Um grito teu e tudo se move. Rodopiam e enfraquecem o mundo, os teus gritos. Delirados e requebrados, sem saber deram-se conta. De que o grito.
Fora o último.
Chama-se o teu nome. Grita-se. Esbraceja-se. E as carpideiras lacinantes tornam-te em porcelana. A cantar baixinho algo que me afaste destes gritos. A balançar o corpo para afastar a dor, o susto da perda. Para matar a doença, para matar a morte dentro de mim. E então o mundo parece ser antes de ti, febre, antes de ti, dor, antes de ti, loucura. Antes de ti, morte.
Da febre, pouco mais que escaldante, marcava o corpo a compasso lento, entrevendo a respiração a baque.
Do corpo, o martírio.
Da voz, a loucura.
Dos olhos, o sono denso, pesado, triturante a par da febre.
Da cadeira do lado fitavam-no. E de um canto. E do outro.
E a porta abria-se e fechava-se com lamentos e lamúrias, vozes de desespero e carpideiras.
No ar, o cheiro a medicamentos, a médico acabado de se ir. Ao sal das lágrimas incontáveis.
E na cama, tu. Desgrenhado, desidratado, possuído por um demónio qualquer.
Às vezes, a febre deixava-te gritar. E nos gritos a dor via-se. Sentia-se e respirava-se. Chega-se a sussurar. A cantar baixinho algo que nos afaste dos teus gritos. A balançar o corpo para afastar a dor. Para matar a doença. E então o mundo parece ser antes de ti, febre, antes de ti, dor, antes de ti, loucura.
Há uma luz fraca a teu lado. Mal se vêem as gotas que te alagam os poros e tornam-te a pele macilenta, baça. A febre.
Na cadeira de baloiço, lugar vazio e livro abandonado. As horas intermináveis que devoravas. Sempre fiel, sempre fiel. Os livros para ti. Sempre. Tudo. Chorar baixinho. E neste momento tudo se torna em água.
Um grito teu e tudo se move. Rodopiam e enfraquecem o mundo, os teus gritos. Delirados e requebrados, sem saber deram-se conta. De que o grito.
Fora o último.
Chama-se o teu nome. Grita-se. Esbraceja-se. E as carpideiras lacinantes tornam-te em porcelana. A cantar baixinho algo que me afaste destes gritos. A balançar o corpo para afastar a dor, o susto da perda. Para matar a doença, para matar a morte dentro de mim. E então o mundo parece ser antes de ti, febre, antes de ti, dor, antes de ti, loucura. Antes de ti, morte.
by Lunaris
Em cima: Morte no Quarto da Doente - Edvard Munch
Em cima: Morte no Quarto da Doente - Edvard Munch



Por um segundo pensei num quarto DO ruído, como alternativa ao quarto do silêncio. Se um tem como objectivo eliminar todo e qualquer estímulo, o outro transpira desgraça por todos os poros.
ResponderEliminarÉ mais uma escala Lunariana, ruído após ruído até ao ruído final?
asidie: o ruído é aqui um sinónimo de desmoronamento, ou pelo menos foi essa a minha intenção quando o título surgiu... Talvez seja mais uma escala, ou mais um degrau. Mas de certeza não será a última :)
ResponderEliminareduardo césar-textos: Agradeço as visitas, que tenho retruibuído conforme vou podendo. A personagem central é realmente um homem,um igual a tantos outros, sem laços propriament e especiais ou ligados à minha pessoa. O escritor viola sempre momentos. Mesmo que a lembrança seja longa ou que nada tenha a ver, é mais forte que nós. E, por acaso, o texto surgiu antes do quadro, sendo conhecedora da obra de Munch achei-o ideal. De facto, este não é o caso de um desses "exercícios", mas já tomei o método por algumas vezes. Quanto ao livro, não conheço, mas como a curiosidade é muita (um defeito, é verdade) vou procurá-lo :)
Parece que só eu fiquei sem resposta há uns dias no teu antepenúltimo texto... sem problema. Aprende-se sempre com o bem e com o mal.
ResponderEliminarSe não houve resposta é porque não havia ao que responder... Se tens alguma coisa a dizer, diz. Com certeza compreendes que esse tipo de ditos não caem bem a ninguém, nem são para ser tratados em caixas de comentários deste ou qualquer blog. Um beijo
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