25 setembro, 2008

O Elevador

Ela entrou no elevador, amassando-se como pôde no meio da multidão. Exigiu o obséquio de botão espremido a quem mais perto se encontrasse. Fungou três vezes seguidas. Aguardou a chegada ao seu destino, procurando não olhar fixamente ninguém, como dita a etiqueta de elevador sobrelotado.
Primeira saída. Perfume barato de bazar chinês. Segunda saída. Doceiro de bolas de berlim, mistura de suor e chili com carne...hmmm, não... caril de frango.
Terceira saída. Casal de namorados derramando feromonas para o que desse e viesse. Entrada. Old Spice quarentão. Quarta saída. Credo, nem sei o que é isto! Quinta saída. Senhora com misse a desafiar perigosamente as leis da gravidade. Combinação perigosamente tóxica - laca, perfume, desodorisante, creme de mãos, verniz de unhas, amaciador da roupa perfumado e... oh! Vinho do Porto às 10 da manhã?! Por amor à santa!
A multidão mingou: três pessoas. Ela põe-se à vontade, olhando com alguma insistência o indicador do andar. Nem sei se o pior é o cheiro, se este silêncio obtuso. Sexta saída. Adolescente recém-iniciado na arte de perfumar. Boss. Tomou banho com ele, só pode!

Até ao décimo-terceiro andar, o elevador prosseguiu viagem sem paragens.
Depois, quando a porta se abriu, o Old Spice quarentão vira-se para ela e diz-lhe - a senhora sabe que não pode mendigar por aqui? Isto não é lugar para sem-abrigo, não. Tome lá dois euros, veja se toma um bom banho, que bem precisa! Ponha-se a andar daqui ou chamo a Segurança! Ela fungou, na saída do homem, e gritou, enjoada: Não é Old Spice não, é Bosta de Cavalo, mesmo!

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