21 setembro, 2006

O Poço


Todos os dias um pouco mais,
vai o Poço enchendo a vida.
Cantaremos aos demais,
a curta e triste sina
de velhas e animais.

Vieram alvos,
vieram pontes,
vieram tortos.
E mulheres desdentadas,
E homens de destroços.
A quem a sorte não deve nada.

Vieram tontos e vieram sujos
e a morte à paulada,
à espreita em cada arbusto.
“Vejam o monte, vejam o rio,
vejam o sangue, todos mudam
Menos o Poço!”
[é tão grande o desvario!]

E agora os paus e depois o fogo.
E além a água e também o cheiro
da terra queimada e as gentes tremidas
pela Bruxa intocada.

Eis que nunca se viu,
um Poço assim.
A cada hora um pouco mais,
ia o Poço enchendo a vida,
de homens e animais.

Só o fogo impediu
a fúria do povo louco,
que um dia atraiu
a Bruxa ao Negro Poço.
E assim tudo se decidiu.

E na hora infinda da queimada,
o eco do fundo Poço,
sussurra à Bruxa intocada:
“Que a negrura que te engolir
vá um dia em cada pescoço”.
by Lunaris

1 comentário:

  1. Me recordaste las historias-leyendas de las tierras de mi sangre. Gracias

    ResponderEliminar