Despropositadamente. Isso sim, foi o que foi. Despropositadamente este país nasceu, cresceu, emigrou e continua a rebentar pela costuras. Mas as costuras rebentadas já de si tanto foram remendadas que o país não dá para mais. É o que nos dizem os candidatos. Que a cada dia que passa descobrem uma nova forma de discutir o país, de o pôr na ordem, de o fazer crescer pelo Atlântico fora.
Uma vez, alguém me disse que devíamos ser uma ilha. Mas Espanha agarrou-se a nós de tal forma que nos deixou aqui, pendurados na ponta da Europa. Penso que a ideia de sermos uma ilha não era má. Realmente, podíamos, quem sabe, ser uma espécie de Grã-Bretanha. Não era mal visto de todo, não senhor. Mas teríamos, nem de propósito, outros problemas. Em vez de um Tony Blair, calhar-nos-ia um Jardim de ar pomposo. Em vez de uma Queen Elizabeth, uma Amália sem alma de fado. Em vez de um táxi britânico, um Mini.
Quem sabe se nesssa hipótese toda não seríamos melhores, maiores, mais tudo e menos pouco. No entanto, reparem que não seríamos o essencial: portugueses. E deixaríamos de levar a vida como levamos, e deixaríamos de nos queixar e reclamar como reclamamos. Ou de ter medo como temos. Mesmo que o medo esteja no Iraque, nós temos medo. Pelo mundo inteiro.
Já conheceram algum país, algum povo, com essa capacidade? De pensar constantemente no outro, no país longínquo que sofre mas que é como se fosse nosso primo ou irmão. Com a capacidade de se imiscuir no que é dos outros, de se tentar renovar lá fora, mas esquecendo-se que primeiro está o cá dentro. Digo-vos: somos únicos. E dessa exclusividade temos de aproveitar o que há de bom. A escrita, os poetas, o café, o vinho do Porto. Isso também é bom, mas é o que de melhor mostramos aos outros. Os outros que não conhecem a nossa realidade porque não a mostramos. Quando estamos em crise, sorrimos. Quando estamos sem dinheiro, construímos estádios.
Somos megalómanos. Pois somos.
Somos hipócritas. Um bocadinho.
Somos trabalhadores e lamurientos. Sem dúvida...
A este momento não prevejo qualquer vitória numa primeira volta. Todos os candidatos são genuinamente portugueses, pois a raça sobressai-lhes não só nos discursos como nos actos. São portugueses mas só apontam o dedo. A quem faz e a quem não fez - a quem não devia ter feito e a quem faz apesar de tudo. A crítica é salutar, não se esqueçam. Mas o abuso, a calúnia e a agressão não são amigos da razão. Talvez devessem parar.
Sim. Parar e ouvir. Ouvir quem vota. Ouvir quem tem problemas. Ouvir quem não consegue chegar ao fim do mês sem passar dificuldades. Sim. A vida está difícil para todos.
Sim. Talvez fique mais.
Mas não é apontando dedos nem delegando responsabilidades que conseguimos fazer mais por este país que bem poderia ter sido uma ilha. É trabalhando. E lamuriando. Mas trabalhando e não deixando de tentar ver, no meio do nosso pessimismo tão nosso que melhores dias hão-de vir. E crescer.
E, talvez aí, sejamos uma ilha.
Uma vez, alguém me disse que devíamos ser uma ilha. Mas Espanha agarrou-se a nós de tal forma que nos deixou aqui, pendurados na ponta da Europa. Penso que a ideia de sermos uma ilha não era má. Realmente, podíamos, quem sabe, ser uma espécie de Grã-Bretanha. Não era mal visto de todo, não senhor. Mas teríamos, nem de propósito, outros problemas. Em vez de um Tony Blair, calhar-nos-ia um Jardim de ar pomposo. Em vez de uma Queen Elizabeth, uma Amália sem alma de fado. Em vez de um táxi britânico, um Mini.
Quem sabe se nesssa hipótese toda não seríamos melhores, maiores, mais tudo e menos pouco. No entanto, reparem que não seríamos o essencial: portugueses. E deixaríamos de levar a vida como levamos, e deixaríamos de nos queixar e reclamar como reclamamos. Ou de ter medo como temos. Mesmo que o medo esteja no Iraque, nós temos medo. Pelo mundo inteiro.
Já conheceram algum país, algum povo, com essa capacidade? De pensar constantemente no outro, no país longínquo que sofre mas que é como se fosse nosso primo ou irmão. Com a capacidade de se imiscuir no que é dos outros, de se tentar renovar lá fora, mas esquecendo-se que primeiro está o cá dentro. Digo-vos: somos únicos. E dessa exclusividade temos de aproveitar o que há de bom. A escrita, os poetas, o café, o vinho do Porto. Isso também é bom, mas é o que de melhor mostramos aos outros. Os outros que não conhecem a nossa realidade porque não a mostramos. Quando estamos em crise, sorrimos. Quando estamos sem dinheiro, construímos estádios.
Somos megalómanos. Pois somos.
Somos hipócritas. Um bocadinho.
Somos trabalhadores e lamurientos. Sem dúvida...
A este momento não prevejo qualquer vitória numa primeira volta. Todos os candidatos são genuinamente portugueses, pois a raça sobressai-lhes não só nos discursos como nos actos. São portugueses mas só apontam o dedo. A quem faz e a quem não fez - a quem não devia ter feito e a quem faz apesar de tudo. A crítica é salutar, não se esqueçam. Mas o abuso, a calúnia e a agressão não são amigos da razão. Talvez devessem parar.
Sim. Parar e ouvir. Ouvir quem vota. Ouvir quem tem problemas. Ouvir quem não consegue chegar ao fim do mês sem passar dificuldades. Sim. A vida está difícil para todos.
Sim. Talvez fique mais.
Mas não é apontando dedos nem delegando responsabilidades que conseguimos fazer mais por este país que bem poderia ter sido uma ilha. É trabalhando. E lamuriando. Mas trabalhando e não deixando de tentar ver, no meio do nosso pessimismo tão nosso que melhores dias hão-de vir. E crescer.
E, talvez aí, sejamos uma ilha.
Personalmente Portugal me encanta por su gente, por la cordialidad que percibí, por muchas cosas que ahora ocuparían espacio.
ResponderEliminarCierto Lunaris... A veces los ciudadanos delegamos en la desesperanza y el hastío nuestro futuro... Ojalá los ciudadanos tuviésemos realmente conciencia de nuestra fuerza, de nuestro papel.
Saludos