04 janeiro, 2006

A Contadora de Histórias: O Homem que Fazia Chover

Por entre o caos que a rodeava, Pietra conseguira aninhar-se a um canto e proteger-se entre as rochas que rodeavam uma casa. O estranho sentara-se e acendera um cachimbo e olhava placidamente para as pequenas casas de La Colina. O mundo parecia ir acabar a qualquer momento e, de alguma forma, aquele homem considerava isso banal.

Banal o rio entrar em redemoinhos infindáveis, banal o fogo consumir a água e o gelo espalhar-se por entre as raízes das árvores. Tudo isto parecia-lhe vulgar. Talvez até mesmo desprezível.
Não fossem os gritos dos vivos e Pietra julgaria estar morta. Quando olhava aquele Homem sentia-se assim, mas sem angústia, sem medo, sem saudade dos outros que temem agora pela vida. O Homem que Fazia Chover transmitia-lhe o vazio, o escuro, aquilo que é interminável e oco de vida. Quem sabe se não era ele a própria morte, de cachimbo ao canto da boca, a contemplar passivamente o rasto de destruição que criara. De súbito, o cachimbo apagado, o Homem erguido e o caos terminado. O Homem olhava na sua direcção e ria-se. Ria baixinho e nos seus olhos havia um brilho imenso, feito de cristais de prata.
(continuará...)

by Lunaris

1 comentário:

  1. ¡Hola bella! ¿Sabes? Cuando leo tu y releo tu texto me evocas el pensamiento oriental y el "mono-no-aware": ese aceptar que las cosas pasan, ese sentimiento de aquel que conoce que las cosas son finitas y a la vez infinitas.

    Sigue...

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