Corria a aldeia toda no despontar da aurora e sentava-se aninhada ao maior carvalho de Dois Rios. Depois era só esperar que o Sol nascesse, que a vida acordasse e que o dia se tornasse pronto para poder dar largas à imaginação. A contadora de histórias chamava-se Pietra. Franzina e morena, de lábios miúdos e olhos curiosos, tinha o dom de encantar todo e qualquer habitante de La Colina ou algum ocasional turista que por ali passasse e deixar-lhes na memória não só a narrativa, mas sobretudo os cheiros e o roçar da pele naqueles que da história nasciam. Era, de facto, uma mulher invulgar. Mas recheada de desejos tão comuns a todos os nós que ninguém diria que, por ali, pelos seus traços e mãos calejadas pelo trabalho na terra, pelo seu sorriso de mulher-miúda, haveria algo de tão forte capaz de enfeitiçar qualquer pessoa.
Quando chegava o momento de contar a história, depois de chegados todos os petizes da aldeia, Pietra fechava os olhos e entoava um cântico. Sempre o mesmo, sempre no mesmo tom, com a mesma duração. Um cântico que só ela conhecia, que conseguia despertar em quem a ouvisse, o maior dos interesses, a mais profunda das atenção. Finalmente, lançava-se na história, criada na hora, improvisada no ritmo e no sentido, mas sempre fascinante, tendo como herói o Homem que fazia chover.
O Homem que fazia chover aparecia quase sempre nas suas histórias, e ninguém lhe conhecia o rosto. Visitara terras distantes e vencera, raras vezes pela força, mas sim pelas palavras, deuses de reinos longínquos e delirantes. Raras vezes o herói recebia uma recompensa pelo seu feito, que seria quase sempre salvar alguém de apuros ou curar algum rei ou vencer um monstro.
Pietra soltava a ladainha que o fazia invencível e as crianças deliravam. Bebiam-lhe os gestos e a ternura derramada nas palavras, as descrições minuciosas da salvação do rei e das poções mágicas. Mas o que nem Pietra suspeitava era que todas as crianças da aldeia sabiam-lhe muito mais que enlevada por aquele misterioso Homem, que segundo ela, viera um dia a La Colina e fizera chover, como não chovia havia 10 anos. As casas destruiram-se, da força das águas o céu tornara-se roxo e furioso. O vento soprava sem piedade e arrancava às árvores as poucas folhas que lhes restavam. Nesse dia Pietra escondera-se ao ver o estranho chegar - um homem alto e moreno, novo, de mãos pouco castigadas e de olhos intensos. (continuará?)
si por favor... continuará... :D
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