Digam-me o seguinte: o que fariam com 11 euros e 20 cêntimos num mês? Onde cabiam esses 11 euros e 20 cêntimos por entre despesas familiares, de transporte e alimentação? Não dá para muito, pois não? Eu sei que não...
É precisamente essa quantia, 11, 20 euros, que o Governo se propõe aumentar no salário mínimo nacional, um aumento na ordem dos 3% que, no final de contas, com o aumento abrupto de quase todos os bens e transportes, de nada serve. Quase chego a pensar que este Governo não se farta de gozar com quem mais precisa de ver o ordenado mínimo aumentado. Venham-me depois dizer que Portugal é o país com maior número de pobres, sabendo-se desde logo que é, actualmente, o país europeu onde o custo de vida tem aumentado assustadoramente, num visível desequilíbrio com o poder de compra de nós, portugueses.
Os sindicatos, à hora da redacção deste post, afirmavam ser necessário um aumento na ordem dos 20 euros, fixando o ordenado mínimo nos 394 euros e 90 cêntimos, e desafiou o Governo de Sócrates a comprometer-se a estabelecê-lo, até ao final da legislatura, na ordem dos 520 euros mensais.
Com certeza que os senhores dos sindicatos, com todo o mérito que lhes reconheço, não devem acreditar que esta proposta será aceite, e se o for, com certeza que não será cumprida... Não prevejo mais que um aumento de, no máximo, 13 euros. Claro que não sou economista, e não partilho da visão esclarecida e terminantemente pessimista dos nossos políticos. Mas seria bom que voltasse ao de cima o ideal que baseou o surgimento do ordenado mínimo nacional... porque não é com 11 euros e 20 cêntimos que vamos lá chegar...
Aqui têm os últimos desenvolvimentos sobre a matéria. O Governo vai mesmo avançar com os 11 euros e 20 cêntimos... http://tsf.sapo.pt/online/economia/interior.asp?id_artigo=TSF165670
14 novembro, 2005
Onze euros e vinte cêntimos
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ja que se fala de salarios minimos, e do gozo do governo, como se tudo isto fosse uma brincadeira de criancas, nao e ma ideia acrescentar umas ideias ao debate, nao necessariamente contra.
ResponderEliminarcom um aumento substancial do salario minimo, haveria condicoes para, por exemplo:
- fiscalizar convenientemente o trabalho ilegal, pago abaixo do salario minimo, que certamente aumentaria?
- combater o aumento da imigracao ilegal, consequencia do aumento deste mercado de trabalho paralelo?
- manter empregada a fatia da populacao com nivel de educacao extremamente baixo que herdamos do seculo passado, que neste momento esta num determinado nivel salarial e dificilmente manteria a produtividade a um nivel mais elevado?
- garantir que o custo de vida, que tem "aumentado assustadoramente", nao aumenta ainda mais, quando os custos salariais extra forem passados para o consumidor?
- evitar a deslocalizacao de empresas para locais onde a mao de obra e mais barata e qualificada, e consequente aumento do desemprego, independentemente das questoes eticas?
entao e escolaridade obrigatoria ate ao 12 ano JA, com severas sancoes em caso de incomprimento, e uma justica que funcione? os salarios nao vem a seguir?
asidie, em relação à "brincadeira de crianças" podes ter a certeza que este é um assunto muito sério. Pelo menos assim o tomo. Não estou muito por dentro, confesso, dos assuntos que se referem ao trabalho ilegal e à imigração ilegal. Apenas sei que este Governo tem procurado cerrar barreiras aos imigrantes ilegais, talvez até mais que todos os outros até agora. Quanto à fatia da população que dizes ter sido "herdada do seculo passado", hoje em dia qualquer patrão é obrigado a dar X dias de formação a um empregado. E desde já digo-te que não concordo com a generalização de que esta camada da população não consiga manter "a produtividade a um nível mais elevado"... Estamos a falar de pessoas, não de máquinas. Para haver mais produtividade e mais qualidade tem de ser apostar na formação contínua do empregando.
ResponderEliminarEm relação ao aumento do custo de vida,não estou a ver onde queres chegar com um aumento derivado dos custos salariais extra. E em relação à deslocalização de empresas, o que é preciso é criar leis e fiscalização que penalizem e que façam pensar duas vezes as empresas que fecham portas e despedem centenas.
Sou completamente a favor da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, embora considere que sendo obrigatória este devia ser ainda um regime totalmente gratuito, no ensino público. E não vejo o que os salários poderam influenciar isso, já que já conheço casos de gente com "canudo", de grau universitário e até mestrado, que é preterido em favor daqueles que apenas possuem o 12.º ano. Porque é mais barato pagar a quem tem menos formação.
Neste país, citando a Gotika, promove-se a mediocridade, sem olhar a meios. E o ordenado mínimo actual é apenas um dos espelhos dessa realidade...
"Quanto à fatia da população que dizes ter sido "herdada do seculo passado", hoje em dia qualquer patrão é obrigado a dar X dias de formação a um empregado. E desde já digo-te que não concordo com a generalização de que esta camada da população não consiga manter "a produtividade a um nível mais elevado"..."
ResponderEliminarquando digo "herdada do seculo passado" estou a pensar sobretudo no regime anterior, e em valores que infelizmente ainda passam de pais para filhos, como educacao e saber ler e escrever, ja para nao falar do trabalho infantil. penso que a generalizacao e valida. ha empregos que exigem muito pouco dos trabalhadores, e um aumento salarial nao vai aumentar a produtividade destes, apenas diminuir margens de lucro. resolucao? penso que estes empregos nem deviam existir, e vao deixar de existir, na europa ocidental. e o "made in china, designed in california" nas traseiras de um ipod.
"Em relação ao aumento do custo de vida,não estou a ver onde queres chegar com um aumento derivado dos custos salariais extra."
estas a ver empresas onde se pagam salarios baixos deixarem as margens diminuir para para nao aumentar o preco dos produtos? e so isso.
"E em relação à deslocalização de empresas, o que é preciso é criar leis e fiscalização que penalizem e que façam pensar duas vezes as empresas que fecham portas e despedem centenas."
acho bem, se a essas empresas tiverem sido concedidas condicoes especias para abrirem portas em portugal, a nivel fiscal ou subsidios. deve haver salvaguardas para o estado. caso contrario, essas leis pura e simplesmente nao podem existir. e a lei do mercado. o que tem que existir e mobilidade dos trabalhadores. onde se vai buscar a mobilidade? a formacao e educacao.
"Sou completamente a favor da escolaridade obrigatória até ao 12.º ano, embora considere que sendo obrigatória este devia ser ainda um regime totalmente gratuito, no ensino público."
estamos 100% de acordo.
"já que já conheço casos de gente com "canudo", de grau universitário e até mestrado, que é preterido em favor daqueles que apenas possuem o 12.º ano"
eu tb conheco casos iguais e diferentes, cada um com as suas razoes. nao sei se isto sera um bom argumento. por exemplo: eu nunca contrataria um mestrado na minha area, e nao tem absolutamente nada a ver com salarios. alem disso, tb na minha area, um universitario sem experiencia e carne para canhao mal paga e muitas vezes preferivel a 12o ano com experiencia, a nivel salarial.
"Neste país, citando a Gotika, promove-se a mediocridade, sem olhar a meios."
sem duvida, mas ate agora nunca me impediu de TENTAR fazer a diferenca, dentro das minhas possibilidades, nem de acreditar que daqui a 20 anos as coisas vao ser diferentes.
"sem duvida, mas ate agora nunca me impediu de TENTAR fazer a diferenca, dentro das minhas possibilidades, nem de acreditar que daqui a 20 anos as coisas vao ser diferentes."
ResponderEliminarNeste aspecto estamos totalmente de acordo. Mas com o exemplo com que lido no meu dia-a-dia, acredita que isso, infelizmente, não muda tão facilmente... bem, não há que desistir, lá isso...