De noite deslizava no céu a carga bruta de azul que parecia existir para sempre. De lá dentro soam as badaladas de um relógio e continuo a olhar, sem perceber o que ali faço. O que ali sinto… ou cheiro.
É verde o teu cheiro de terra. A humidade envolve-me brevemente e sem medo encaro a melodia de um grilo insistente. Continuo sem perceber o azul que envolve o céu, o verde que preenche o campo, continuo sem entender o porquê de aqui estar.
No decorrer de dois dias perdi a consciência do que era. Cometi crimes de mim para mim e não consigo voltar à inocência de quem fui. Naquele castanho cor-de-mel vi algo que me perturbou. Que me conduziu até ao crime primeiro, empurrando-me para o crime segundo, que acabou soltando-me selvaticamente no crime terceiro.Daí para cá sou criminoso. E inconsciente do fui.
O quer que tenha feito quando vi aquele sorriso cor de sangue foi algo que na memória não me ficou. A imagem dos olhos cor-de-mel persegue-me insidiosamente, até de noite.
Lembro-me vagamente de uns caracóis loiros, que tremiam a cada gesto, de uma pele em tudo assemelhada à neve. Lembro-me disso, mas perdido. Não tenho certezas de nada e contudo os olhos cor-de-mel levaram-me à certeza de que não serei mais que criminoso.
A carga azul continua lá em cima. A verde cá em baixo, reconfortando-me no meu sono insomníaco. Vagarosamente fecho os olhos e de novo cometo o crime, crime terceiro…
(continuará...)
by Lunaris
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